Espelho, Espelho Meu...
Quando a madrasta-bruxa
da Branca de Neve pergunta ao espelho: “Espelho, espelho meu, existe alguém
mais bela do que eu?”, o que está em jogo não é apenas a vaidade e a inveja,
como revela o clássico conto de fada compilado pelos irmãos Grimm, mas a
possibilidade de saber de si através da imagem, é o olhar e o que ele pode
revelar sobre a identidade de quem está refletido. É a partir dessa ideia que
consideramos o espelho um objeto fundamental que deve estar presente no espaço
do berçário.
A ideia de olhar a
imagem refletida, parece uma ideia simples, mas em se tratando de crianças
pequenas, mais especificamente de bebês, poder se reconhecer na imagem
refletida pelo espelho é resultado de um processo complexo.
No início de seu
desenvolvimento, o bebê encontra-se num estado de dispersão e de
indiferenciação, e se percebe como que fundido ao outro. Aos poucos, nas
diferentes relações que vão estabelecendo, primeiro com a mãe e depois com
outros que vão entrando na sua história e fazendo parte de seu contexto social,
inicia-se o processo de diferenciação. Segundo Henri Wallon essa é a etapa da
formação do eu corporal, que ocorre no primeiro ano de vida. Nessa fase, os bebês
miram fixamente para o reflexo no espelho, com a curiosidade de quem olha e se
admira, intrigado e pesquisador.
A etapa seguinte se
refere à junção do corpo tal como sentido pelo bebê à sua imagem tal como vista
pelos outros. O desenrolar desse processo pode ser acompanhado pelas reações do
bebê diante do espelho: leva um tempo até que reconheça como sua a imagem
refletida.
Não é raro vermos uma
criança no primeiro ano de vida intrigada com o seu reflexo no espelho,
tentando tocar sua imagem ou aproximar-se dela como quem chega perto de outra
pessoa. Essa imagem refletida ainda não é percebida como própria. É aí que
entra a função do espelho no ambiente da sala do Berçário.
O espelho se oferece
como elemento importante na construção da identidade. Por meio das brincadeiras
que faz em frente a ele, a criança começa a reconhecer sua imagem e as
características físicas que integram a sua pessoa. Pensando nisso colocamos na
nossa sala um espelho grande o suficiente para que várias crianças possam se
ver de corpo inteiro e brincar em frente a ele.
Ao olhar no espelho a
criança estranha, reconhece, indaga, pesquisa, apropria-se, surpreende-se,
fascina-se. Portanto procuramos fazer a instalação do mesmo onde o espelho
ficasse acessível a todas as crianças, de quem engatinha, dos que andam e já
procuram sua imagem, mesmo dos que ainda não se locomovem sozinhos, mas podem
ficar na frente do espelho sentadinhos se observando. Olhar para o espelho e
ver a própria imagem, ver o outro e o ambiente da sala com oportunidade para
experimentar ângulos diferentes do mesmo olhar.
Para Maria Montessori o
espaço dos pequenos deve ser estruturado de acordo com a ótica da criança e não
do adulto, de forma que ela circule livremente explorando as coisas que estão
ao seu alcance. O ambiente deve ser pensado de forma minimalista e funcional,
assim a barra de apoio vem para ajudar o bebê a desenvolver a marcha sem
depender da ajuda dos adultos. Nela a criança aprende a levantar-se e a dar os
primeiros passos com apoio, para depois andar de forma livre e independente.
Mas essas vivências só
estão sendo possíveis pois contamos com a doação do espelho, bem como ganhamos
a sua instalação. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a Família da
Agente em Atividade de Educação Kalliny pela doação, bem como agradecemos a
Família da Eduarda que nos deu a instalação. Esse gesto nos permite vivenciar
momentos de muitas alegrias repleto de muitas descobertas.